Miragem (set2012)
A noite te faz outra.
Te revela única, muito mais bela
Que a luz do dia já mostrava.
Meu Deus, como tu fica linda sob o véu noturno...
Inerte, fluindo infinita no sono profundo
O que sonha? Que mundo, que histórias vive agora,
Enquanto eu, do outro lado deste espelho
Fico a te venerar embevecido, intrigado?
O que move o ritmo da tua respiração suave?
Que ventos sopram em tuas velas?
Que estrelas instruem teu sextante?
Não importa.
Tu é linda no sono.
Nada te faz mais linda que a luz azul
Que se derrama leitosa nesta cama, noite adentro.
É outra mulher. Outra beleza, outra vida.
Quem sabe seja a mulher de verdade
A que sonhei - e que só existe no sonho.
No sono, teu...
Como se ele fosse o refúgio
A rota de fuga para outra vida.
Um universo paralelo, paraíso indecifrável
Que eu tento, em vão,
invadir na penumbra onde tu brilha...
E me ofusca com teus traços perfeitos,
Iluminados no breu deste quarto.
Tua expressão longínqua me desarma
Com o olhar que fulge
Sob as pálpebras docemente cerradas
O sopro leve do teu ar percorrendo meu rosto
É um golpe macio de misericórdia...
Como tu é linda no escuro!
Como te vejo tão mais linda no escuro!
Mas sei que não te vejo...
É sim, uma miragem
Pairando nas dunas que teu corpo desenha
Nestes lençóis de prata ondulante
Do imenso deserto púrpura entre nós
Te vejo tão perto, te sinto tão longe.
Tão outra, tão mais viva que a outra,
Aquela, que à luz do sol, é apenas um sonho meu.